Num dia não muito distante deste, e num lugar também próximo de onde estamos, uma baleia deu à costa, enorme e silenciosa, como se o mar a tivesse oferecido aos humanos em forma de dádiva. Em pouco tempo, começaram a chegar pessoas de todos os lados, atraídas por aquele fenómeno raro, jamais visto. O ar ao redor parecia suspenso, como se o próprio tempo também tivesse parado por um instante para a contemplar.
“A Whale of a Time”, enquanto expressão idiomática, evoca imagens de prazer e de intensa diversão. Porém, por detrás desse brilho aparente, esconde-se o peso dos tempos atuais, um mundo a caminhar para o colapso. Abel Mota apresenta-nos um ambiente balnear ficcional, em que o cenário idílico da praia se converte em palco para novas encenações. Esta não é, no entanto, uma celebração óbvia do lazer e da leveza do verão. O divertimento desmedido enunciado pela expressão inglesa do título, surge aqui de mãos dadas com uma ironia subjacente. A narrativa individual e articulada entre as várias pinturas transforma-se num espaço onde corpos e criaturas se diluem, onde a pele é simultaneamente disfarce e personagem. Neste novo bestiário balnear, as figuras seduzem-nos com a mesma dualidade das criaturas lendárias: ora inocentes, ora prestes a devorar-nos.